A História do DFS

O segmento de fantasy sport (esporte de fantasia) da forma como conhecemos hoje, com empresas já grandes e robustas como se observa nos USA, Índia e Europa, é ainda, muito recente e incipiente em outros mercados no mundo, como o Brasil.
Nos seus primórdios, quando os jornalistas esportivos se juntavam para jogar nos fundos dos restaurantes de frango assado, os esportes de fantasia eram season long, ou seja, temporada completa. Nesse tipo de fantasy sport você monta seu time e aguarda o campeonato acabar para saber se ganhou ou não.
Existem algumas teorias sobre os antecessores de fantasy sport, como o jogo de fantasia sobre golfe criado pelo proprietário do Oakland Raiders Bill Winkenback.
Uma segunda teoria sobre a criação do fantasy sport, atribui sua origem a um inglês chamado Bernie Donnelly, em 1971. O jogo tinha como pano de fundo o futebol e foi batizado como Donnelly Fantasy Football League. A configuração era bastante interessante: havia apenas oito equipes na liga e cada equipe consistia em 15 jogadores, dos quais apenas cinco jogavam a cada semana.
A única ação que gerava pontuação no jogo eram os gols. As regras eram infinitamente mais simples em comparação com o sistema de pontuação de hoje. Porém, havia uma ressalva, as equipes, uma vez criadas, sempre permaneciam as mesmas, apenas os gestores dos times podiam ser substituídos. Cada novo "treinador" poderia ficar com o time do antecessor ou fazer uma reforma. Bernie relatava que havia uma longa lista de espera de pessoas que queriam assumir os clubes. Ele até admitiu certa vez que, se tivesse optado por fazer, poderia ter criado uma segunda divisão, tamanha era a demanda.
Porém a maior parte das pessoas aponta como pai do Fantasy Sport o americano Daniel Okrent. Ele fundou, em 1980, a Rotissiere League Baseball, a qual ficou conhecida como o primeiro fantasy sport da história, e foi à época formada por um grupo de jornalistas escalando jogadores de beisebol.
A liga recebeu o nome do restaurante onde seus fundadores se reuniram para discutir o modelo do jogo. O nome foi posteriormente encurtado para "Roto", e esta abreviação foi utilizada posteriormente, inclusive, para nomear famosos sites relacionados ao fantasy sport. Ironicamente, apesar de ser o fundador desta liga, Okrent nunca conseguiu vencê-la.
No decorrer da década de 1980, esse novo modelo de jogo se tornou um fenômeno nos EUA e foi ganhando popularidade à medida que mais e mais jornalistas esportivos começaram a conhecer e se interessar pelo fantasy sport. Com o advento de formas mais sofisticadas de coletar estatísticas,a popularização do jogo ganhou escala e se tornou ainda maior.
Sites como o Commissioner.com (serviço de fornecimento de dados e notícias de Fantasy de beisebol com estatísticas, pontuações etc.) começaram a ganhar cada vez mais volume de tráfego.
No início de 1997, por exemplo, o site RotoNews.com começou a operar, e, em dado momento, foi visitado por mais pessoas do que o site oficial da NBA. Curiosamente, o site sobreviveu a toda a turbulência dos anos 2000 e 2010 e agora é conhecido como RotoWire. Até o Yahoo.com se juntou à diversão, adicionando fantasy sports a sua plataforma em 1999. O boom do pontocom no início dos anos 2000 trouxe ainda mais popularidade aos fantasy sports nos EUA e na Europa.
Com a premissa de que os campeonatos de fantasy sport não precisam durar uma temporada inteira, criou-se torneios tão curtos que durariam um dia somente, então nasceu o Daily Fantasy Sport como conhecemos.
Apesar da sua curta história, ao longo dela o esporte já passou por altos e baixos, chegando a ser confundida com apostas e, devido a isso, beirar a ilegalidade em algumas localidades. Nos EUA por exemplo, onde já encontramos mídias nos próprios jogos e em diversos outros canais de distribuição, apenas uma década atrás, o governo de vários estados pensavam seriamente em rotular o DFS como jogo de sorte.
Neste artigo vamos descobrir mais sobre a história do Daily Fantasy Sports (DFS).
 

Afinal, o que é o Daily Fantasy Sport?

Estamos falando de uma disputa on-line em que um grupo de pessoas duelam entre si em uma liga ou competição específica. Cada competidor escala o seu time virtual de atletas profissionais, com possibilidade de mesclar jogadores de diferentes times, devendo, apenas, observar um teto de gastos previamente estabelecido pelo organizador.
Cada escalação gera o ganho ou a perda de pontos a partir de estatísticas apuradas em um jogo real, como gols, defesas, passes, entre outros. O competidor ganha ou perde pontos com base no desempenho estatístico dos jogadores em competições do mundo real. Se o jogador faz um gol, o competidor ganha cinco pontos a seu favor. Se o atleta profissional der um passe certo para o gol, o competidor marcará mais três pontos no ambiente virtual. Por outro lado, se o jogador real perder um pênalti, o competidor perderá quatro pontos, e se tomar um cartão amarelo, perderá outros dois pontos, e assim por diante.
Os critérios e as pontuações atribuídas a cada ação são previamente definidos pela empresa organizadora da competição, sendo do conhecimento de todos os usuários antes do início do torneio.
Ou seja, você participa de um torneio, monta uma equipe para uma rodada, acompanha o desempenho dela e (se vencer) recebe seus ganhos quando o torneio termina.
Não há lesões, trocas, substituições, mudança de tática da equipe ou suspensões que possam prejudicar sua equipe o ano inteiro. Há apenas o desempenho do seu time para a respectiva rodada.
Se um jogador do seu time se machucar, é uma perda difícil para aquela sua rodada, mas você pode escalar um novo time no dia seguinte com novos jogadores.
Você não precisa atualizar continuamente sua escalação a cada semana, se você sair de férias ou tiver uma semana de trabalho ocupada, simplesmente não precisará jogar nessa semana. Basta voltar quando quiser, diversamente do que acontece com a modalidade tradicional de fantasy, o season long
Vale relembrar o fantasy conta com duas modalidades mais conhecidas: (i) a disputada por temporada – season long ou de tiro longo -, na qual os usuários competem entre si durante toda uma temporada esportiva, e (ii) a modalidade de fantasy diária (daily fantasy), de tiro curto realizada em uma semana ou um único dia de competição.
Os esportes de fantasia diários são nada mais nada menos que uma versão de curto prazo das ligas de fantasia de temporada a mais tempo difundidas no Brasil.

História do DFS:

As primeiras interações com DFS não são nada parecidas com as elegantes plataformas digitais que observamos hoje em dia, na realidade eram até bem analógicas.

DFS à moda antiga:

Na década de 1990 encontra-se um dos primeiros registros de torneios de DFS nos EUA. Nessa época, vários jornais pelo país traziam um jogo de beisebol chamado Dugout Derby e outro de futebol americano chamado Pigskin Playoff.
Tais jogos possuíam a mesma estrutura lógica de funcionamento que as atuais plataformas de DFS que conhecemos, porém de maneira analógica. Para jogar você precisava ligar para o serviço telefônico que disponibilizavam, era cobrado então US$ 2,00 pelo primeiro minuto e US$ 1,50 para cada minuto adicional.
 

A transição para o Online:

O Instant Fantasy Sport (IFS) foi a primeira plataforma online a disponibilizar um torneio de DFS online, nos EUA, posteriormente foi comprada e rebatizada de SnapDraft pela NBC Universal. Porém teve uma curta existência, em 2013, quando outras plataformas de DFS surgiram, ela perdeu expressivamente sua participação no mercado até encerrar suas operações.Apesar da instabilidade econômica que caracterizou os primeiros anos do novo milênio, os esportes de fantasia foram se tornando cada vez mais um hobby popular. Uma pesquisa realizada em 2003 pela Fantasy Sports Trade Association mostrou que cerca de 15 milhões de pessoas praticavam esportes de fantasia, gastando cerca de 150 dólares por ano em média.

2009: A ascensão do FanDuel

A partir da expansão do seu site especializado nos mercados de previsões de jogos ,HubDub, Nigel Ecles fundou, em 2009, o mais proeminente dentre os novos provedores de DFS online, o FanDuel. Rapidamente começou a dominar o mercado. A Unlawful Internet Gambling Enforcement Act de 2006, permitia disputas na modalidade fantasy sport (diversamente do que acontecia com outros tipos de jogos) e possibilitava que uma competição de esportes de fantasia tivesse tanto a duração de uma temporada inteira, como de uma disputa diária.

2012: A chegada do Draftkings

Fundada em 2012 por ex-executivos da VistaPrint -Jason Robins, Matt Kalish e Paul Liberman - o DraftKings foi o primeiro concorrente de peso do Fanduel no mercado dos EUA. Logo de início mostrou apetite com patrocínios significativos como o da Major League Baseball (MLB).
Entre esses dois marcos estava o início do Rotogrinders, possivelmente o maior site relacionado a fantasy sports conhecido no mundo, e, curiosamente, ainda em operação.

2013: Primeiro milionário pelo DFS

No final de 2013, o primeiro milionário de DFS foi coroado quando Travis "TSpiedo" Spieth ganhou o grande prêmio de USD $ 1 milhão distribuído pelo FanDuel FFFC .
Nos próximos dois anos, o DFS passou por um boom devido à capacidade de acessar torneios por meio de dispositivos móveis (já onipresentes em meados da década de 2010) e, é claro, campanhas de marketing agressivas das empresas que atuavam no setor.

2015: Diversificação dos esportes e patrocínios.

Com a entrada do Draftkings na MLB, outros patrocínios com NHL (DraftKings), NBA (Fanduel) e times integrantes da NFL logo em seguida foram firmados também.
Nesse momento, as empresas de fantasy sports viram a possibilidade de expandir sua atuação sobre os eSports. Nos EUA, tanto Fanduel quanto Draftkings fizeram esse movimento. A entrada aconteceu por meio dos torneios de League of Legends do DraftKings e o antigo AlphaDraft do Fanduel.

2017: A tentativa de fusão das gigantes

No mercado americano chegou-se até a ser anunciado que o Fanduel e o Draftkings iriam se fundir, criando, desse modo, o maior e melhor DFS de todo o mundo. Porém, essa fusão não aconteceu devido a Federal Trade Commission ter bloqueado o acordo por motivos relacionados à lei antitruste e à alta concentração de mercado que isso poderia gerar. Caso o acordo viesse a ser efetivado de fato, iria se formar um poderoso monopólio e, consequentemente, concorrência desleal com o restante dos players.
 

O que nos aguarda para os próximos anos.

Apesar de já bem desenvolvido nos EUA, a modalidade de DFS ainda se encontra muito embrionária quando se observa da ótica global. Atualmente, poucos países possuem empresas fortes e sólidas no segmento: EUA com FanDuel e Draftkings, Índia com Dream11 e Brasil com Rei do Pitaco e Cartola. Esses são os players e países que atualmente contam com uma indústria mais significativa de fantasy sport. A Europa, devido a sua forte cultura em apostas esportivas, não desenvolveu esse setor, nem dá sinais que irá desenvolver. Essa despreocupação européia com a indústria, gera uma excelente oportunidade para o Brasil crescer e atrair investimentos estrangeiros para o desenvolvimento desse esporte dentro de casa. Pois, além de tudo isso, o Brasil é o único país com proporções continentais e população extremamente engajada em esportes onde essa modalidade ainda não foi explorada. Nosso País é o mais propício a desenvolver DFS em todo o mundo no momento.

Fontes:
https://draftgym.com/fantasy-sports-history-part-1
https://draftgym.com/brief-history-of-fantasy-sports-part-2-europe
https://www.cheatsheetwarroom.com/blog/dfs
João Felipe Levy,Chief Financial Officer do Rei do Pitaco.

Notas de rodapé:
1 https://draftgym.com/fantasy-sports-history-part-1
2 https://draftgym.com/brief-history-of-fantasy-sports-part-2-europe
3 https://draftgym.com/fantasy-sports-history-part-1
4 https://www.cheatsheetwarroom.com/blog/dfs
5 https://www.cheatsheetwarroom.com/blog/dfs
6 https://draftgym.com/fantasy-sports-history-part-1
7 https://www.cheatsheetwarroom.com/blog/dfs